Palavras que passaram

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Excerto #2

Tinha-o afetado mais do que queria admitir, afinal, aquele aleatório cruzamento com a sua deusa egípcia, nos seus sentidos opostos. Enfim. Não podia deixar de admirar a ironia daquele dia, repetida continuamente ao calhas naquela cabeça enfadonhamente sóbria. Ele, descendo o asfalto em estranho esforço, tentando não respirar pela boca e ela, do outro lado, subindo o descampado, como que uma criança aos pinotes. Devia ser a energia daquele paneleirote com quem ia de mãos dadas. Engoliu a amargura daquele fino num suspiro e mandou vir outro. O Amor que ficasse para quem ainda ou já nele, neste ridículo caso, se deixava embalar. Ele tinha o álcool e, realmente, apesar de não ter os encantos de uma gaja atraente, nunca o tinha rejeitado, traído ou só deixado.

Excerto #1

Outros dias perdeu, sem nada que lhe importasse para além de um ou outro passeio, um ou outro fino, um ou outro tinto de variável qualidade...Sabia que não podia continuar assim, mas assim continuava, entre os devaneios ora eufóricos, ora deprimidos da bebida. Por vezes, berrava por Cristo, outras, pela mãe, mas sempre acabava em soluços regados com as lágrimas do seu desespero.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Bukowski (provisório)

Tardes vãs, tornadas noites, noites em que a bebida invoca coragens alheias, noites diluídas, nas memórias de quem idolatramos...Em noites assim, Bukowski surge. Gradualmente, sem por ele dar, lá surge -a meu lado- "vais acabar essa cerveja, paneleiro?" e assim sei que a ébria alma gémea chegou. Por momentos, lá ficamos, apreciando a minha bebida, as pernas de qualquer mulher, a condição humana que, a este local, todos nos trouxe.
(to be continued)

Vagabundo

Amigos, agora me acompanhando,
Não se manterão.
Perder-se-ão pelo caminho,
No seu se encontrarão.

Vida de vagabundo,
Vomitando por esse mundo.
Sei que vivo no fundo,
Bêbado gargarejante, imundo.