Palavras que passaram

quinta-feira, 31 de março de 2011

Pessoas de Plástico

Cada vez mais gosto deste enredo, cada vez mais decadente, cada vez mais baixo...Nem o termo "espiral descendente" consegue traduzir bem as...Reviravoltas, traduzidas em entradas e saídas num buraco de fraca fibra e falsa moral. Seguramente que não se poderá olhar para essa coisa com algo menos que nojo, mas...É o preço a pagar por uma bizarra história sobre plástico moldado em mão alheias.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Doeu

Doeu. Mesmo com a sua melhor máscara de indiferença posta, fruto de breves momentos em palco, todos os que o observavam percebiam, certamente de uma forma diferente do seu vizinho, que ele era um ser ferido. Uns conseguiam, até, identificar as marcas, os cortes, as queimaduras, como recentes e aventuravam-se a adivinhar a sua causa. Apesar de todas as teorias, cujos inventores se deliciavam a imaginar, apenas uma pessoa sabia, não só do sucedido, mas também dos detalhes, das causas, das lutas, das lágrimas, das raivas, dos desesperos...Só não sabia como tudo isto se desenvolveria. Sabia mais sobre ele que qualquer outro que o rodeava diariamente e, no entanto, não o abandonara. Se seria um sinal de verdadeira amizade, tão rara nesta época de máscaras, ou fascínio por uma existência que teimara em desafiar-se a cair mais longe, apenas ela o saberia, ao contemplar o ramo de rosas mais cor-de-rosa que alguma vez encontrara, momentos depois de o deixar no local de descanso daquele que, um dia, encontrara nela o que pensava não mais existir.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Noites

Noites, as há, em que o sono se perde com companhias distintas. Há outras, em que as vozes que só ele ouve se sobrepõem ao chamamento do merecido fechar de olhos. Há noites, ainda, em que a Musa o chama, independentemente dos seus planos, da sua fadiga, da sua vontade, da sua sanidade...Nestas alturas, nada mais lhe resta, senão, pegar na sua pequena caneta, já quase sem tinta e passar a papel o fruto da sua discussão com essa que, agora mais do que nunca, o invade. Tantas vezes se interrogou sobre a origem deste intelecto, se seria divino, se seria infernal, se seria, talvez, uma fonte de conhecimento incompleto, que viajava pelas estrelas e escolhia seres solitários para os deliciar com as suas pinturas em palavras, ou se seria, apenas, a sua própria cabeça a reagir à falta de estímulo proveniente da falta de contato com os demais...Rapidamente estas questões se dissipavam, quando, terminado o ritual, lia, pela única vez, o que a sua caneta capturara. Após este breve momento de glória anónima, sentia sempre a vontade do cigarro, que trazia, ocasionalmente,  no bolso de trás das calças. Esta vontade, não sua certamente, permitia-lhe puxar do seu isqueiro Zippo e, após o primeiro bafo dessa coisa que empesta o ar, enrolar o seu testamento à palavra escrita, queimá-lo e vê-lo ser consumido pelas chamas que, um dia, jurava ele, o consumiriam, também.