Palavras que passaram

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Encruzilhada

Outra vez, à velha encruzilhada volto. Por momentos, sugerem-me os sentidos, que, nunca, deste sítio saí. Sincero é o sentimento de desespero que derrota a volátil vontade de viver, indiferente à imaginação incapaz de um indivíduo inferiorizado pela sua ignóbil irrelevância.

Nada muda

Mudam os locais e nada mais. Mudam os corpos e nada mais. Mudam os ideais e nada mais. Muda tudo e nada mais. Neste inferno de vivente incerteza trilho, o caminho, nunca desvendado. Inferno não o será, certamente, pois, mesmo na irada avenida de chamas, a honestidade de um visível propósito, definido em eternos ciclos de castigo, se presta à mudança da alma pecadora. É meu, pois, o lugar no Purgatório, encarnação da mesmice, cansado flutuar à tona de um estéril oceano, afastado dos planos da Vida.

domingo, 29 de maio de 2016

Feito acordar

Feito acordar por um dos seus inúmeros roncos noturnos, convidados da gordura, que no seu próprio corpo, a sua vontade tem como prisioneira, a fome de sono sua é-lhe tirada pela melancolia daquele tecto, elegantemente vestido com o negrume, presenteado pela Lua que, todas as noites, os visitava e, todos os dias, por ele olhava. Custava-lhe o respirar, decerto culpa daquela montanha, residente senhoria do seu ventre e que há muito, lhe tapava a visão das pequenas colinas, vizinhas das florestas embrenhadas do seu Sul. Gradualmente, o túnel, em que seus olhos aparentam se guiar, é deixado para trás, trocado, som o mais pequeno reconhecimento, pelas livres deambulações por aquele claustrofóbico cubículo, onde os sonhos param para morrer.

sábado, 28 de maio de 2016

Corrupto é o sacramento

Corrupto é o sacramento a que meu coração doou a sua paixão. Mitigado por migalhas despejadas sobre o desprezo do barro que, a meus pés, cobre as estradas desta vila monocromática, observo o trajecto do escarlate jorrado. Pequeno, mas certamente não sem significado, admito, é este tributo. Repito, entre murmúrios, palavras desconhecidas a estes tempos, o brasão desta família fundada por druidas, troca com uma natureza anterior à luz da Criação. Outrora, possuíramos nenhuma necessidade em conhecer verdades alheias, não havia sido, ainda, conjurado o ego. Sorrio do alto do meu orgulho, contemplando a mudança da simplicidade percepcionada dos tempos, à medida que arcanas energias forçam a saída da brisa que a noite deitou à minha volta. É chegada a a hora em que, todos quanto vieram antes de mim, um só com absolutos ocultos se tornaram. Impulsiona-me, esta interminável linhagem, à honra da minha antecedência, sob a forma das intemporais palavras que, neste único momento, repetido a cada geração dos nossos, nos elevou para além da nossa condição. Lambo os lábios e forço um sorriso. Fecho os olhos e profiro as palavras que tudo deitam a perder: "Qual delas amo?".

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Quem nos fez

Mal digamos de quem nos fez, determinante erro de juventudes unidas em instintiva luxúria, danadora daqueles que hão-de vir...Defina-se o futuro, em lençóis arregaçados, suores esforçados, preservativos rebentados...Inventai posições, coçai comichões, cobrai comissões...Pois quem se fode são vossos filhos.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Petite

Violada morada de Morfeu -meu noturno abrigo-, resguardo algum me permitirás sagrado? Recordo eventos deste sonho, lúcidos como que ocorridos na Realidade desperta. Surgiste-me à porta -desorientado, abri- e tomaste o meu lugar na banheira, sem importar à água, trocando um corpo onde e por onde cair, por outro. Encharcada, beleza assombrante, pela nascente artificial, me golpeaste -uma vez mais- onde mantiveste lugar "Ainda bem que já não somos amigos/Nunca gostei de ti". Recordo todo o detalhe dessa "petite" estatura, sem ideia da pergunta que se desprendeu destes lábios e me entregou ao acordar.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Aquela

Será forjado em Amor, breve cumplicidade em que te pinto? "Usted", reconheço, meu Norte, audível sincronia em alta estrutura, pondo lábios nossos a igual nível? Estarei -criatura de coimbrenses vontades- imaginando, em ti, semelhante? Lamentos , aos ventos, vómitos, desejando quem não posso ter, quem teria, não me enterrassem grilhões estrangeiros..."Yeah, baby", nossos sonhos serão complicados.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Esquece-me

Esquece-me. Aos bocados, às folhas que me arrancas, frases tornadas tuas...Esquece-me no teu tablet, teu caderno, coração...Esquece nosso beijo, olhar seguro, amor no escuro...Esquece-me como te esqueci...Falsidades sorridas ao mundo.