Palavras que passaram

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Brinde

Um brinde aos meus inimigos, jamais vencidos. A meus sentimentos, sempre fodidos. A meus amores nunca correspondidos. Um outro brinde aos manos dos copos, felizes e fodidos. Um brinde...Que se lixe. Todos os brindes a mim. Eu, que ainda cá estou -tal como existo- nos "entres".

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Excerto #2

Tinha-o afetado mais do que queria admitir, afinal, aquele aleatório cruzamento com a sua deusa egípcia, nos seus sentidos opostos. Enfim. Não podia deixar de admirar a ironia daquele dia, repetida continuamente ao calhas naquela cabeça enfadonhamente sóbria. Ele, descendo o asfalto em estranho esforço, tentando não respirar pela boca e ela, do outro lado, subindo o descampado, como que uma criança aos pinotes. Devia ser a energia daquele paneleirote com quem ia de mãos dadas. Engoliu a amargura daquele fino num suspiro e mandou vir outro. O Amor que ficasse para quem ainda ou já nele, neste ridículo caso, se deixava embalar. Ele tinha o álcool e, realmente, apesar de não ter os encantos de uma gaja atraente, nunca o tinha rejeitado, traído ou só deixado.

Excerto #1

Outros dias perdeu, sem nada que lhe importasse para além de um ou outro passeio, um ou outro fino, um ou outro tinto de variável qualidade...Sabia que não podia continuar assim, mas assim continuava, entre os devaneios ora eufóricos, ora deprimidos da bebida. Por vezes, berrava por Cristo, outras, pela mãe, mas sempre acabava em soluços regados com as lágrimas do seu desespero.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Bukowski (provisório)

Tardes vãs, tornadas noites, noites em que a bebida invoca coragens alheias, noites diluídas, nas memórias de quem idolatramos...Em noites assim, Bukowski surge. Gradualmente, sem por ele dar, lá surge -a meu lado- "vais acabar essa cerveja, paneleiro?" e assim sei que a ébria alma gémea chegou. Por momentos, lá ficamos, apreciando a minha bebida, as pernas de qualquer mulher, a condição humana que, a este local, todos nos trouxe.
(to be continued)

Vagabundo

Amigos, agora me acompanhando,
Não se manterão.
Perder-se-ão pelo caminho,
No seu se encontrarão.

Vida de vagabundo,
Vomitando por esse mundo.
Sei que vivo no fundo,
Bêbado gargarejante, imundo.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Banho

Ao Amor dediquei tudo quanto era - ódio, sangue, raiva. À universal mentira que tudo permeia, estes - os do meio - ergo. Enoja-me toda esta falsidade, essa...Mediocridade existencial, escudo de corações defeituosos...Cresce em mim o ódio vergastador. Sou incapaz - Deus me ajude - de o conter ou combater. Demasiado humano, empático?...Fraco para não me afundar neste banho pintado com sangue.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Quedar

Sedento de fervor, abraço comum dor. Falta-me Amor, vivo sua ausência em temor. Perco-me no tentar, aqui me hei-de quedar. Houvesse algo a fazer, fá-lo-ia - com celeridade de Mercúrio! - fosse minha devoção mais forte que a Entropia de existir...Pudessem estes lábios exprimir o que os deuses aqui dentro deixaram e, talvez, só talvez, da fadiga destas solidões existenciais nos conseguissemos desagrilhoar...Ah, idílicas noções de quem noção já não tem...Voltasse a idade para trás e, seguramente, a Salvação guardaríamos - em punho cerrado...! - para jamais a perder...! Ah, quanta esperança oferecem estas impossíveis noções a quem o conceito perdeu já...